domingo, 22 de maio de 2011

21:19


Faz tão mal quando estás longe, agora volta e já faz bem. Faz bem? Fez bem, sempre fez, mesmo fazendo tanto mal.
 É o que eu venho tentando explicar a mim mesmo. Venho tentando explicar porque o seu bem me faz tão bem, se o meu bem não te causa nada. Ou será que causa? Me perdoe se olho só pelo meu lado, é que é o meu lado, é só por ele que posso olhar.
Eu admito que nunca tentei olhar meu lado pelo o seu, até porque se tentasse, se tornaria também o meu, e algumas coisas, mesmo unidas, tem que se firmar particulares, não é? É isso quanto ao ponto de vista. Mas eu queria, descumprindo as regras, olhar apenas por uma vez seu lado – Não olhando pelo meu.
Será que eu veria o que eu vejo por aqui? Ou veria ao contrário? Veria você como um simples figurante? Já que é assim que me vejo olhando pelo meu lado, no meu mundo, onde te faço minha princesa mais sublime, meu personagem principal. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Aí você vasculha toda a agenda do celular, e descobri que nenhum contato ali supre sua necessidade de alguém - Quem? - Que nenhum vai suprir.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Lembranças insistentes

- Vais embora?
- Tu nem vai lembrar
- Pode até ser que não, mas é o teu rosto que eu vejo em todos os meus sonhos. Imagina o quanto é angustiante?
- Eu sinto muito
- Se sentisse ficaria
- Tu sabe que eu não posso
-Tu sabe o quanto dói
- Tu sabe que eu sempre volto
- E vai doer de novo quanto for embora. Isso nunca acaba? Afinal, pra onde você vai?
- Eu deixo de existir
- Deixa?
- Toda vez que te deixo
- Não me deixe aqui

Então o céu ciano desabou em água, como se até os anjos, ainda que de tão longe, chorassem também sua dor.
Os dedos antes entrelaçados, agora eram obrigados a aceitar seus destinos, mesmo que depois de se soltarem só existiria uma imensidão de nada, regada de uma  memória distante de uma história em que o anti-herói sofria tanto quanto a mocinha.
Ela não conseguia, ele o fez. Os olhos cheios d’água a fizeram cair de joelhos para implorar que ficasse; ele não podia mais. Não era uma escolha – Era um caminho traçado bem antes da vida dela começar. Eram duas almas destinadas a sofrer pela perda em cada encontro, mas, que mesmo com tudo, continuavam eternamente a serem os dois lados da mesma moeda.
Não havia nada a se fazer, quando seu sua imagem sumiu perante as arvores adormecidas pelo inverno, tudo acontecera novamente. Em um segundo estava parada, perdendo o ar, suplicando até ao que não acreditava para que cada centímetro do seu corpo estremecesse e acabasse por ali mesmo. No outro não existia mais, ainda ardia, mas não sabia ao certo porque.
Ficou de pé, tentando olhar para os lados e assimilar o que acabara de presenciar, mas, por mais esforço que fizesse, não conseguia.  Pensava que de certo apagara de novo, talvez por horas, ou até por dias, não importava mais.
Era tarde, havia de encontrar o rumo de casa, ainda que em seu subconsciente,  fazia dela as palavras: Longe dele também não existia, apenas resistia.
De onde estava ele podia a ver. Sofria sozinho, sangrava por dentro, queria voltar. Mas se tudo tinha que ser assim, o que fazer? Tinha de se conformar e aceitar, que só assim poderia te-la – Ouvindo seu choro a todo final. 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tente ler por trás - As palavras podem ter vários sentidos.

- Você por aqui?

- Eu sempre venho aqui

- É, eu acho que esqueci

- Eu acho que esqueceu

- Eu falava do fato

- Eu falava de nós

- Eu sei

- Sempre sabe

- Nem sempre

- Antes sabia. Tu mudaste

- Faz tempo

- Eu sei

- Eu sabia

- Tu esqueceu?

- Eu queria

- Só queria?

- Até tentei

- E não deu certo?

- Você faz perguntas obvias

- Nada é tão obvio assim, tu deveria saber.

- Eu deveria saber tantas coisas

- Uma delas é que a minha casa fica na mesma avenida

- Ainda deve ter o mesmo cheiro

- Eu tentei tirar

- Eu tô sempre tentando. 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O lugar até podia ser ideal, mas estava longe de ser o idealizado. Outro parque, outros tempos, outro janeiro, talvez de um ano diferente, talvez de um dia igual.
As mãos que tremiam – De certo não de frio – Se viram obrigadas a saírem dos bolsos, cada qual com um elemento de seu vício, cada qual carregada de indecisão.
Então eram os três últimos cigarros, mas eu sempre tinha alguns espalhados pela casa – Que agora estava longe demais pra pensar.

- Você quer um?

- Eu parei de fumar

- É mesmo? Faz quanto tempo?

- Hum... Exatamente duas horas, eu to tentando.

- Você tenta demais

- Você nunca consegue

- Por isso não tento

- Pois deveria

- Tenho vícios mais graves

- Comece por eles

- Estou tentando

- Há quanto tempo?

- Dês da ultima vez que levantei meu rosto e almejei seus olhos.

... 

- Me dá um cigarro

- Você parou

- Eu tenho vícios mais graves.