- Vais embora?
- Tu nem vai lembrar
- Pode até ser que não, mas é o teu rosto que eu vejo em todos os meus sonhos. Imagina o quanto é angustiante?
- Eu sinto muito
- Se sentisse ficaria
- Tu sabe que eu não posso
-Tu sabe o quanto dói
- Tu sabe que eu sempre volto
- E vai doer de novo quanto for embora. Isso nunca acaba? Afinal, pra onde você vai?
- Eu deixo de existir
- Deixa?
- Toda vez que te deixo
- Não me deixe aqui
Então o céu ciano desabou em água, como se até os anjos, ainda que de tão longe, chorassem também sua dor.
Os dedos antes entrelaçados, agora eram obrigados a aceitar seus destinos, mesmo que depois de se soltarem só existiria uma imensidão de nada, regada de uma memória distante de uma história em que o anti-herói sofria tanto quanto a mocinha.
Ela não conseguia, ele o fez. Os olhos cheios d’água a fizeram cair de joelhos para implorar que ficasse; ele não podia mais. Não era uma escolha – Era um caminho traçado bem antes da vida dela começar. Eram duas almas destinadas a sofrer pela perda em cada encontro, mas, que mesmo com tudo, continuavam eternamente a serem os dois lados da mesma moeda.
Não havia nada a se fazer, quando seu sua imagem sumiu perante as arvores adormecidas pelo inverno, tudo acontecera novamente. Em um segundo estava parada, perdendo o ar, suplicando até ao que não acreditava para que cada centímetro do seu corpo estremecesse e acabasse por ali mesmo. No outro não existia mais, ainda ardia, mas não sabia ao certo porque.
Ficou de pé, tentando olhar para os lados e assimilar o que acabara de presenciar, mas, por mais esforço que fizesse, não conseguia. Pensava que de certo apagara de novo, talvez por horas, ou até por dias, não importava mais.
Era tarde, havia de encontrar o rumo de casa, ainda que em seu subconsciente, fazia dela as palavras: Longe dele também não existia, apenas resistia.
De onde estava ele podia a ver. Sofria sozinho, sangrava por dentro, queria voltar. Mas se tudo tinha que ser assim, o que fazer? Tinha de se conformar e aceitar, que só assim poderia te-la – Ouvindo seu choro a todo final.
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